POLIFARMÁCIA E PREPARAÇÕES PERSONALIZADAS: UM DESAFIO PARA A FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO MODERNA

3 de março de 2021

Autor: Jose Antonio Ferreira, Ph.D

A manipulação de medicamentos magistrais possui como um dos objetivos fundamentais o atendimento a necessidades individuais, configurando sua personalização. Este papel torna-se ainda mais relevante no contexto atual da saúde pública mundial. O envelhecimento populacional é um fenômeno que tem ocorrido em escala global. Esta realidade gera novas demandas sociais, econômicas, sanitárias, educativas inclusivas e de manejo da morbidade, em decorrência preponderância de doenças crônicas e degenerativas as quais exigem a oferta do acompanhamento, cuidados permanentes e exames periódicos. As doenças crônicas não transmissíveis, como a hipertensão arterial, diabetes e doenças coronarianas, ganham destaque acometendo a população. Com o predomínio das doenças crônicas, outro padrão que se estabeleceu foi o uso de polifarmácia.

A polifarmácia é definida como o uso simultâneo de quatro ou mais medicamentos por um indivíduo. Além da comorbidade, estão implicados na gênese da polifarmácia o número de médicos consultados, a ausência de perguntas sobre os medicamentos em uso durante a consulta médica e a automedicação. Quando idosos fazem uso da polifarmácia, há um risco aumentado de problemas relacionados à utilização dessas drogas; estes podem incluir: descumprimento de terapia medicamentosa, sobre ou subdosagem, duplicação terapêutica, uso de medicação contraindicada em conjunto, interações medicamentosas e reações adversas. Estudos indicam que o risco de ocorrência de reações adversas pode aumentar em 13% com o uso de dois agentes, cerca de 58% quando este número aumenta para cinco, elevando-se para 82% nos casos em que são consumidos sete ou mais medicamentos.  As iatrogênias inerentes a polifarmácia são uma importante causa de internações hospitalares.

A manipulação de medicamentos magistrais possui como objetivo fundamental o atendimento a necessidades individuais, configurando sua personalização, seja em termos da dose terapêutica, forma farmacêutica adequada para uso, ausência de insumos farmacêuticos para pacientes com histórico de intolerância, entre outras justificativas técnicas.  A principal vantagem do produto manipulado é a grande flexibilidade na manipulação das fórmulas, permitindo individualizar as doses, as quantidades do medicamento e, até mesmo, a formulação, que muitas vezes não são encontradas no produto industrializado. Com a prescrição do médico, é possível formular um só medicamento com mais princípios ativos, na dosagem e na quantidade necessárias. Com isso, os custos para o paciente podem ser substancialmente reduzidos.

A manipulação de medicamentos trás para a realidade do paciente, e do prescritor, a possibilidade de oferecer a dose certa para a pessoa certa associada, quando necessário, ao uso de vários princípios ativos na mesma fórmula, favorecendo a aderência do paciente ao  tratamento, minimizando a quantidade de medicamentos a serem ingeridos ao dia. Esta abordagem farmacológica racional, em um contexto de utilização supervisionada do fármaco e a orientação da equipe de saúde de forma preventiva, e por vezes corretiva, tende a otimizar o tratamento de condições de doenças frequentes na senilidade, minimizando a assistência direcionada a complicações em função de erros.

Autor: José Antonio Ferreira, Ph.D